“Envelhecer bem é ganharmos a sabedoria do tempo”

Envelhecer não é um problema, é uma conquista. Foi desta convicção que nasceu a Vida Maior, o projecto fundado por Juvenal Baltazar para promover uma nova cultura do cuidado e da longevidade — mais humana, digna e participativa.

Em entrevista ao VER e nas vésperas do seminário “Caminhos para a Longevidade”, o fundador reflecte sobre os desafios do envelhecimento e das demências em Portugal, defendendo uma transformação profunda da forma como olhamos, cuidamos e valorizamos o tempo vivido.

POR HELENA OLIVEIRA, EDITORA DA VER

“Vivemos mais tempo, temos mais acesso a cuidados de saúde e acumulamos mais conhecimento e experiência. Isso devia ser motivo de orgulho, mas o que vemos são pessoas isoladas, famílias exaustas e respostas institucionais centradas na doença, e não na pessoa.” Foi a partir desta inquietação — e de uma visão profundamente humanista do envelhecer — que Juvenal Baltazar criou, em 2019, o projeto Vida Maior, uma organização que procura devolver ao cuidado o seu significado mais pleno: o de ser relação, presença e dignidade.

Na origem da Vida Maior está a convicção de que “envelhecer não é apenas acumular mais anos e doenças; é continuar a ter desejos, emoções e projectos de vida”. Por isso, o seu modelo aposta numa abordagem centrada na pessoa, que integra equipas multidisciplinares e uma escuta activa da história, dos gostos e das vontades de cada idoso. “Não basta cuidar. É preciso que o cuidado seja adaptado às necessidades de cada pessoa.” O resultado, conta, tem sido transformador: “temos visto pessoas recuperarem autonomia, vontade de descobrir novas actividades e concretizar sonhos”, um impacto que se estende às famílias, que “voltaram a sentir-se seguras por verem os seus familiares felizes, com saúde e conforto”.

Mas a missão da Vida Maior vai além dos seus centros e equipas. “Sentimos que temos também como missão promover uma sociedade onde a pessoa idosa seja mais valorizada”, explica o fundador. É desta ambição que nasce o seminário “Caminhos para a Longevidade – Desafios do Envelhecimento e das Demências em Portugal”, o primeiro grande evento promovido pela Vida Maior. O encontro, que se realiza em Torres Vedras, pretende reunir investigadores, profissionais de saúde, decisores políticos, cuidadores e famílias num espaço de partilha e escuta mútua, “capaz de reunir quem estuda, quem decide e quem cuida”.

“O envelhecimento é, talvez, o tema mais transversal e desafiador da nossa sociedade”, afirma Juvenal Baltazar. “A forma como cuidamos dos mais velhos é o espelho da nossa maturidade colectiva.” Por isso, o seminário propõe um diálogo entre mundos que raramente se cruzam — da ciência à política, das instituições sociais às famílias — e convida a repensar o envelhecimento como uma questão cultural, ética e intergeracional, e não apenas demográfica ou clínica.

Numa longa e muito interessante conversa com o VER, Juvenal Baltazar fala de solidão, desigualdade e da falta de coordenação entre serviços, mas também de sinais de esperança. “Há uma nova geração de profissionais que olha o envelhecimento com outro olhar: mais humano, mais aberto e menos paternalista.” Entre as suas prioridades para a próxima década, enumera cinco grandes caminhos: a promoção de uma cultura positiva do envelhecimento; a inovação social e tecnológica; a inclusão e participação das pessoas idosas; a sustentabilidade humana; e a cooperação entre gerações.

“Envelhecer bem é continuar a sentir-me vivo e com vontade de contribuir para deixar este mundo melhor, mesmo que seja com pequenos gestos”, resume. Numa sociedade que vive mais tempo, mas ainda não aprendeu a valorizar o tempo, a proposta da Vida Maior é clara: transformar a longevidade num projecto colectivo de dignidade, propósito e humanidade.

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Fonte: VER