Envelhecimento e Institucionalização: Desafios para uma intervenção abrangente e integrada

Centrado na caracterização das pessoas idosas, bem como nas rotinas desenvolvidas em ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas), identificamos as necessidades e desafios na intervenção junto desta população. 

 

É através das conversas intencionais, à observação participante e à pesquisa documental que a compreensão da realidade institucional e o quotidiano da vida das pessoas idosas em causa, se torna percetível. Através destas técnicas, recolhemos informações relativas à caracterização sociodemográfica, ao trajeto profissional, aos gostos, interesses, motivações, rotinas na ERPI e atividades desenvolvidas. 

Dedicamo-nos, em especial, à caracterização da condição de saúde da população idosa, sendo que tal caracterização compreende a avaliação do seu estado físico, mental, emocional e funcional, sendo aplicadas a escala de Barthel, de Mini Mental e a escala de Depressão Geriátrica que, pela informação obtida, nos permitem priorizar uma intervenção de fisioterapia, terapia ocupacional, de animação sociocultural, enfermagem, clinica geral, neurologia, psicologia, psicomotricidade, psiquiatria e nutrição, junto da respetiva população.

A falta de estimulação cognitiva e a insuficiente integração das pessoas idosas nas respetivas modalidades pode desfavorecer o bem-estar das pessoas que vivem em ERPI. Na Vida Maior procuramos colmatar as necessidades dos indivíduos e dos próprios familiares que vivem o processo de envelhecimento. Aqui, a intervenção social consiste em perceber e interpretar as necessidades para proceder à respetiva intervenção. Neste sentido, o trabalho tem como intuito compreender o processo de envelhecimentos das pessoas idosas em ERPI, diagnosticando, assim, as necessidades e problemas encontrados bem como das potencialidades, tendo em vista a realização de uma intervenção eficaz e rigorosa.

O envelhecimento tem também um fator e dinamismo social, traz uma modificação no status da pessoa idosa e no relacionamento interpessoal. Assim como a perda de papeis sociais, valorizados socialmente, levando assim as pessoas idosas a uma perda da sua autoestima, muito derivada dessa mudança de papéis, por exemplo, na família, no trabalho, na sociedade, perdas diversas e diminuição de contactos sociais.

Outro tipo de transformações que a pessoa idosa ultrapassa diz respeito aos aspetos psicológicos, sendo estas a dificuldade de se adaptar a novos papéis, falta de motivação e dificuldade de planear o futuro, necessidade de trabalhar as perdas, alterações psíquicas que exigem tratamento, depressão, paranoia, suicídio e baixas autoimagem e autoestima. Ou seja, é necessário intervir e programar atividades para que seja vivido um envelhecimento ativo, onde seja possível combater alguns dos fatores anteriormente referidos. Para tal, é necessário conhecer bem as características, funcionalidades da pessoa idosa, bem como os seus costumes e interesses. Toda esta dinâmica é dentro do modelo de intervenção da Vida Maior uma prioridade e respetiva ação diária no trabalho que desenvolvem.

O processo de transição para uma instituição e a respetiva adaptação é um processo por vezes doloroso ao próprio e à respetiva família, é um processo com ruturas, seja do espaço físico e dos bens que neles existem, quer das redes de socialização dos familiares ou dos vizinhos a que as pessoas estão integradas na comunidade local. Por vezes as instituições podem ter uma tendência de “fechamento” em si mesmas e a experiência da pandemia em nada facilitou.

Na Vida Maior a intervenção social foca-se na minimização desse mesmo “fechamento”, percebendo claramente que depende da opção, é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo. Quando falamos de institucionalização, significa a entrada para um novo local, varia entre temporária ou definitiva, logo o investimento pessoal e social na integração deve ser multidimensional e ativo com os diferentes atores, funcionários de ERPI, famílias, espaço, novos colegas e amigos, atividades, numa intervenção dinâmica e sistémica familiar.

A participação na comunidade, a manutenção das práticas familiares e respetivas relações, são fatores indispensáveis ao sucesso da intervenção social com pessoas integrada sem ERPI. É um todo que permite a intervenção social acontecer com resultados positivos junto da pessoa idosa. A esfera socio-emocional, é inseparável no trabalho com a pessoa idosa, é bem mais fácil trabalhar com uma pessoa que apenas tenha algum problema físico do que alguém que apresente problemas psicossociais.

É necessário estimular o pensamento para aspetos positivos, para a alegria, a esperança e a criatividade. Se assim for, depois de estimulado a pessoa ganha mais autoestima, mais participação, começando assim a envolver-se mais nos assuntos que o rodeiam.

Em suma, sabemos que a melhor forma de ter uma velhice saudável é a atividade, seja ela em que área for, implementar ocupação de um tempo livre, operativo e relacional promove o bem-estar da pessoa e respetiva família. Na vida Maior a comunicação com as famílias e respetivos feedbacks são essenciais para harmonizar toda a intervenção social e assim programar todo o processo de envelhecimento.

 

Por Elisabete Feio Baltazar,

Diretora Técnica Vida Maior Atlântico