Teatro A Bolha – A Imaginação Não Tem Idade

“Somos, por natureza, contadores de histórias e estórias.”
A nossa capacidade – e necessidade – de contar histórias atravessa toda a nossa evolução enquanto humanidade. Arrisco a afirmar que foram elas que nos impulsionaram a desenvolver a consciência e a tornarmo-nos no que somos hoje: um conjunto de memórias, experiências, expectativas, ilusões e desilusões, sonhos e transformações. Humanos.

Quando comecei a desenvolver trabalho artístico e a mediar dinâmicas literárias, compreendi que as histórias de vida eram um poço infinito de possíveis criações artísticas – mas não só. Antes de mais, reconhecer a dimensão de uma vida e abraçá-la através da escuta e da empatia é, por si só, um ato terapêutico. Para quem a conta e para quem a escuta. É uma ponte entre dois corações, entre duas consciências. A aprendizagem retirada das vivências do outro é crucial para a nossa própria capacidade de superação ao longo da vida. Mais uma vez, as histórias são estrelas-guia que podem expandir – ou limitar – os caminhos que escolhemos.

Neste trabalho que iniciei com os clientes do Vida Maior, a proposta foi recolher lendas das mouras encantadas para desenvolver uma peça de teatro de marionetas em miniatura, um formato intimista conhecido como Teatro Lambe-Lambe. A primeira etapa consistiu na recuperação de memórias antigas associadas a essas lendas. Ao longo de várias sessões, explorámos diferentes técnicas artísticas e de storytelling que nos ajudaram a decifrar memórias pouco nítidas e a encontrar histórias da tradição oral – passadas à volta do fogo, relatando o mistério e o desconhecido de acontecimentos sem explicação lógica.

Tem sido um processo enriquecedor para ambas as partes – para mim e para aqueles que aceitaram o meu desafio. Apesar das dificuldades psicomotoras (desenvolvemos personagens através da manipulação de plasticina e desenho) e do acesso a memórias mais antigas, conseguimos criar uma história de raiz, inspirada na identidade das mouras encantadas de tempos passados, transportando-as para os dias de hoje e dando-lhes nova vida.

O mais gratificante tem sido testemunhar o entusiasmo e o envolvimento dos participantes ao longo do processo. Não só por conseguirem recordar histórias e fragmentos do passado, mas também por se surpreenderem com a sua própria capacidade de criar algo novo e original. Sentindo-se parte ativa do projeto, reconhecem-se como agentes criativos e não apenas como espectadores. Neste momento, estamos a desenvolver os elementos de cenário, e sei que, no final, o verdadeiro encanto não estará apenas nas lendas recuperadas por uma memória enfraquecida pelo tempo, mas também na descoberta de que a imaginação não tem idade.

Salomé Abreu

A Bolha – Teatro com Marionetas