Preservar o Fazer: Motricidade Fina em Terapia Ocupacional

Na Vida Maior, a Terapia Ocupacional desempenha um papel essencial na promoção da funcionalidade, bem-estar e autonomia da pessoa idosa. Um dos focos de intervenção mais relevantes no dia a dia é a motricidade fina, a capacidade de realizar movimentos precisos com as mãos e dedos, tão necessária para tarefas tão simples como abotoar uma camisa, segurar um copo ou escrever o nome.

Com o envelhecimento, é comum verificar-se uma perda progressiva da destreza manual, seja por alterações musculares e articulares, seja por condições neurológicas como demência, AVC, Parkinson ou outras neuropatias. Esta perda tem impacto direto na autonomia e pode comprometer a autoestima, a segurança e a participação ativa da pessoa idosa nas suas rotinas. É precisamente neste ponto que a Terapia Ocupacional atua de forma personalizada, significativa e respeitadora da história e capacidades de cada pessoa.

As atividades propostas na Vida Maior com a pessoa idosa procuram mais do que exercitar as mãos: promovem ligação com o mundo, memória sensorial, prazer na realização e sentido de utilidade. Utilizamos desde materiais simples como massas de modelar, pinças, contas, molas, tecidos e botões, até tarefas funcionais do quotidiano como dobrar roupa, fazer crochet, abrir frascos ou preparar pequenas receitas. Também recorremos a exercícios adaptados de escrita, colagens, puzzles e jogos manuais que estimulam a coordenação óculo-manual e o raciocínio. Sempre que possível, estas propostas são integradas em atividades temáticas ou comemorativas, reforçando o sentido de pertença e a ligação ao tempo presente.

Mesmo em pessoas idosas com demência ou limitações motoras severas, observam-se pequenas vitórias: mãos que voltam a abotoar um casaco, dedos que antes tremiam e agora conseguem agarrar uma chávena, rostos que se iluminam ao reconhecerem movimentos de infância ou tarefas que já não faziam há muito tempo. A repetição carinhosa, a adaptação do material e o olhar atento da terapeuta ocupacional são as chaves que abrem essas portas.

Ao cuidar das mãos que já criaram, sustentaram e cuidaram ao longo da vida, a Terapia Ocupacional não se limita a recuperar movimentos, devolve expressão, autonomia e sentido. Cada gesto resgatado é uma ponte entre o passado e o presente, entre o que se foi e o que ainda se é. Porque, mesmo com limitações, há sempre um fazer possível e nele, a dignidade permanece intacta.

Sara Branco

Terapeuta Ocupacional da Vida Maior